12.03.17
A ESCOLA NOS ANOS 30 DO SÉCULO XX
José Augusto Simões
Por caminhos, mato e rochedo,
Com os livros dentro da sacola,
Que em dias de vendaval metia medo,
Sempre contentes para chegarem à escola.
Mais de uma légua era a jornada.
Mas as crianças gostavam de aprender:
Mesmo em dias de chuva e trovoada,
Corriam alegres sem nada temer.
Sempre prontos para sair da cama,
Mesmo a chover ninguém os detinha,
Assim levavam toda a semana,
Levando para o almoço: broa e sardinha.
Servia de escola uma casa antiga,
Sem eletricidade, água e sanitários,
As crianças chegavam sem qualquer fadiga…
Alegres faziam os seus trabalhos diários…
Mais de oitenta alunos, um só professor,
Quatro classes em cinquenta carteiras,
No final da primeira já era conhecedor:
Da matéria da quarta e das três primeiras.
Saída ao meio-dia de saco na mão
Na rua e no terreiro soltavam a asa…
Comem a broa sentados no chão
Os meninos da Vila almoçam em casa…
Depressa comem para pular!
A tudo o que vêm eles acham graça.
Inventam maneiras para brincar,
Todas as brincadeiras acabam na praça.
À uma hora já estão na escola,
Fazendo os trabalhos e tendo na ideia:
Que às três da tarde pegam na sacola,
Se juntam, e regressam à aldeia.
Tudo se passou nos anos trinta do século passado,
Eu era um desses alunos que ia para a escola,
De todo esse tempo estou bem lembrado:
Pudera eu hoje voltar a pegar na sacola…
Nunca mais me esqueço dessa escravidão
Descalço, molhado: fui mesmo um bravo
Comia a broa, e sardinha, sentado no chão
Hoje reconheço que era um escravo…
Lisboa, 5 de Novembro de 2011
(Memórias de José Augusto Simões quando frequentava a escola primária na Pampilhosa da Serra ou “POR CAMINHOS MATOS E ROCHEDOS” percurso diário entre a Póvoa e a Pampilhosa da Serra)