31.10.13
EU VIA O MILHO A CRESCER
José Augusto Simões
Quando eu era rapazinho
Via o milho embandeirado
No passal do meu vizinho
Estava o milho bem regado
Para ver as espigas crescer
Tinha que ser bem pensado
Pois tudo o que queria ver
Tinha que ser autorizado
Eu pedi ao meu vizinho
Homem de meia-idade:
- Podes ir mesmo sozinho
Dou-te toda a liberdade
- Para veres as espigas crescer
Só de noite pelo luar
Muitas coisas, tu vais ver:
Terás muito para contar
Para vos contar o que via
Cheguei ao milho bem cedo
Vi assim o que queria
Confesso que tive medo
Antes de amanhecer
Ouvi a rã coaxar
Passou a rola a gemer
E o grilo passa a cantar
Quando o sol estava a raiar
Chega o coelho sem guinchar
A lebre sem berrar
A perdiz a cacarejar
O pombo a arrulhar
O pardal a chilrear
O melro a assobiar
O rouxinol a trinar
E a cotovia a cantar
Depois de tanta alegria
Chegou a águia a gritar
Leva o coelho em agonia
Tudo a fugir e a chorar
De triste também chorei
Eu já não via ninguém
Foi assim que acordei
Nos braços de minha mãe
Lisboa, 28 de Setembro de 2012
(Poema registado no IGAC, direitos de autor reservados)