11.06.10
(José Augusto Simões, Rogério Martins Simões, e Isabel Martins Assunção)
SONHOS LOUCOS...
José Augusto Simões
Quando eu saí da escola
Comecei a ficar obcecado;
Não queria ficar na aldeia
Só para ser pastor de gado.
A agricultura não dava,
Era o que na aldeia existia.
Para procurar outra sorte
Só na sede de freguesia.
Um dia, de manhã cedo,
De muito frio, e nevoeiro,
Segui por reles caminhos,
Fui parar a Pessegueiro.
Ao chegar a Pessegueiro
Estava lá tudo vazio,
Não parou aí a sorte,
Caminhou para o Machio.
Quando cheguei ao Machio,
Procurei-a numa eira,
Ela, aí, não quis parar:
Voou para a Amoreira.
Caminhei para a Amoreira
Só encontrei uma rosa,
A sorte não ficou por lá:
Seguiu para a Pampilhosa.
Não gostou da Pampilhosa
Mas, deixou lá um letreiro:
-“Não vi ninguém na rua,
Caminhei para Janeiro.”
Fui procurá-la a Janeiro:
Lindas casas muito belas.
Era quase Fevereiro…
Quando cheguei a Dornelas.
Quando entrei em Dornelas
Logo me perdi num quelho
Aí recebi um recado:
-Fui para Unhais-o-Velho.
Segui p´ra Unhais-o-Velho,
Procurei-a num passal,
Nem sequer por ali passou,
Foi direitinha ao Vidual.
Segui para o Vidual
Uma senhora disse então:
- Menino não me leve a mal;
Foi para a Vila de Feijão.
Conhecendo eu bem Feijão,
Gente hospitaleira e gentil,
Todos conheciam a sorte,
Era natural do Cabril.
Depressa cheguei ao Cabril,
Estava à porta sentada,
Logo se deitou na cama
De correr estava cansada.
Eu corri todo o concelho.
No Cabril perdi a esperança.
Quando olhei para o meu corpo
Era uma pequena criança.
Uma senhora me disse:
- Menino não corras à toa!
-Se queres procurar a sorte
Tens de ir para Lisboa.
Era uma senhora de idade,
Aceitei o seu conselho,
Ainda estou a ver a velhinha,
Em frente do meu espelho.
Nunca encontrei a sorte,
Quando eu precisava dela,
Agora que estou velhinho,
Já posso passar sem ela.
Lisboa, 5 de Junho de 2010