O PRATO ESFRIAVA!
Rogério Martins Simões
Bancos de areia cobrem os meus pensamentos,
Nuvens transportam toalhas para secar…
Aguaceiros dispersam memórias dos tempos
Salpicando, aqui e além, histórias por contar…
Minha tia mandou-me ao poço
Para o meu corpo lavar!
Não existia gel,
Nem era preciso!
Apenas bolas de sabão
Com que lavava o meu sorriso…
-Vamos aos peixes!
Rolávamos pelos montes
Subíamos as serras
Atirávamos pedras
Sempre nus
Sempre descalços
E entre musgos nascia
Água cristalina
Brotando das nascentes:
Mãe de todas as fontes
Luz de todas as sementes
Ajoelhava
E bebia!
Levantávamos
E corríamos
Sobre trilhos e pedras redondas
Seixos e calhaus rolados.
Bastava um rio
Uma água corrente
Que o calor aquecia…
- Quem pula primeiro do alto da fraga?
E havia um primeiro mergulho
Depois mais outro
Mais outro
E outro…
Olhávamos o Sol!
Que horas seriam?
Já passava do meio-dia!
Já espreitava o pôr-do-sol!
Já ralhava a minha tia!
E mais uma vez o prato esfriava…
Lisboa, 29 de Setembro de 2008
(Poema dedicado à minha tia Laura Simões)