PAMPILHOSA DA SERRA À NOITE
SIGA A FESTA
Rogério Martins Simões
Continuo a pensar que a promoção deste quase abandono das terras do interior – da Beira Serra – foi e é um grave erro político.
Quem conhece a Pampilhosa da Serra sabe que a maior parte da população é constituída por idosos. Quem lá vive, e conheceu o “antigamente”, repara, apesar de algumas melhorias levadas a termo pelas Comissões de Melhoramentos e pela Câmara Municipal, que a juventude tende a “fugir”, como sempre…
O desenvolvimento de um turismo “de ar puro”, de “pura água cristalina”, irá ter no futuro um enorme incremento e a Beira Serra tem todas as condições para ser um dos locais preferidos.
Mas um desenvolvimento não se pode fazer sem ter em conta a preservação dos sinais, dos locais, dos vestígios culturais de um povo. Perdoem-me: fico muito triste ao ver casas medievais arrasadas sem intervenção arqueológica. Salvaguardando a existência de carta arqueológica do concelho, que desconheço; considerando as notícias e os documentos históricos que nos dão conta daqueles locais terem sido povoados por povos primitivos uma questão paira na minha cabeça: onde pára o espólio arqueológico do Concelho? Talvez o defeito seja meu – tenho participado desde 1961 em trabalhos arqueológicos medievais e olho os sítios de uma diferente forma.
Talvez me preocupe demasiado… com estes assuntos. Porém, tomem a devida nota: daqui a alguns séculos haverá pelas serras grupos de arqueólogos a procuraram o que indevidamente destruíram, deixaram destruir e irão destruir.
Não se culpe o povo! O povo que não dá valor a cacos velhos partidos.
- Ainda que fosse algum tesouro!?
O maior tesouro da Pampilhosa está no seu povo e nos sinais da sua presença – na sua riqueza cultural que se vai definitivamente arrasando.
Deixando estas considerações o Concelho da Pampilhosa da Serra carece de mais infra-estruturas, de estradas sem curvas a ligar às grandes redes viárias. O Concelho na Pampilhosa da Serra e a Beira Serra apesar de serem o pulmão de Portugal, e fonte quase inesgotável da água que abastece Lisboa e não só, não foi, nem é compensado, bem pelo contrário: é simplesmente votado ao abandono. Mais uma vez lhes digo, virá o dia em que a água terá mais valor que então extinto petróleo e o ar serão disputados pelos povos.
O Lar da Pampilhosa da Serra e a fixação de idosos às suas velhas aldeias é um exemplo a seguir e a fomentar. Existe acompanhamento e assistência no domicílio a idosos que, assim, continuam ligados às suas aldeias. Seguindo esta ideia, sabendo e conhecendo que muitas aldeias já estão abandonadas definitivamente, penso que poderiam ser apoiadas essas aldeias e lugares, criando condições de vida para lá morarem os idosos que quisessem em vez de os colocarem em “silos”. Falo concretamente em habitações - casas individuais ou colectivas com todas as condições. Falo em disporem de equipamentos de lazer, falo em investimento em criação de postos de trabalho.
Dou mais uma vez o exemplo da aldeia onde meu pai nasceu, a PÓVOA. Os idosos que por lá vivem são bem mais felizes que os colocados em lares da terceira idade: Mulheres e homens jogam às cartas na casa do povo, semeiam e cultivam pequenas hortas, próximas de casa e, agora que finalmente o Governo “acordou” para a injusta perseguição aos produtos tradicionais, talvez possam voltar a criar alguns animais para consumo caseiro, como sempre o povo criou.
Talvez volte a “petiscar” uma canja de galinha ou uns torresmos sem serem de “aviário”.
Esta é a mensagem que vos quero deixar, num tempo de festas, num tempo de aldeias e casas cheias. Pena que seja curto e novamente o povo trilhe os caminhos da diáspora. Mas os tempos são de “mudança”! Siga a festa!
Lisboa, 5 de Agosto de 2008
Rogério Martins Simões
PÓVOA