05.03.04
(Foto padre Pedro)
O magusto
Póvoa da Pampilhosa da Serra, era uma pequena aldeia implantada na serra que no século XIX era terra de muitos castanheiros: assim me contavam os meus avós paternos, minha mãe e outras pessoas mais velhas dos tempos dos meus avós.
Nasci em 1922. Nos meus tempos de criança ainda existiam, na nossa aldeia, muitas centenas de castanheiros, que cresciam em qualquer calçada, barroca ou quebrada.
Os locais onde mais castanheiros se encontravam, eram no Vale Afonso, na Encosta do Recanto, na Portela de Moninho, na Corga do Lobo, na Verejeira, no Salgueirinho de Baixo, no Salgueirinho de Cima, no Cimo do Barro, no Alqueive da Feiteira, no Vale de Medeiros e nas pequenas encostas até ao Vale da Candeia.
Todos os habitantes da aldeia tinham os seus castanheiros, uns mais, outros menos.
As pessoas que mais castanheiros tinham, eram a Senhora Antónia Real, mãe do Senhor António Nunes e madrinha de meu pai, que talvez colhessem mais de 30% de toda a castanha da Póvoa. No entanto outras pessoas tinham bastante castanha: Os Mendes, os Beatos, a Senhora Litugarda, o meu tio Adelino Antunes e os meus primos Gonçalves.
Dada a abundância, eram secas no caniço e daí saía a castanha pilada.
Na minha geração já não havia 50% da castanha que teria existido no século XIX.
Em certos locais, com o aparecimento da doença nos castanheiros, só existiam grandes troncos que mostravam terem sido árvores de grande porte. Já tinham morrido como morre qualquer ser humano, visto nada ser eterno.
Quanto aos magustos, não era no nosso tempo uma coisa tradicional.
As castanhas por vezes ajudavam à alimentação das famílias. Normalmente eram comidas em cima das refeições, cozidas num púcaro grande de barro, ou assadas no borralho quente da lareira, visto que era à lareira que se fazia todo o tipo de comida.
Voltando aos magustos, era uma prática mais utilizada pelas crianças da minha geração, não fazia parte da tradição de convívio, como agora se faz, quando já poucas castanhas lá são criadas.